MOTIVAÇÃO PARA FAZER

MOTIVAÇÃO PARA FAZER


Vivemos o mundo da informação, entendida esta como qualquer estrutura significativa capaz de levar algum tipo de compreensão para o cérebro. Saber que a bolsa de valores caiu é um tipo de informação, da mesma forma que ter conhecimento de que o varal de roupas do vizinho caiu. Essas informações carregam um tipo especial de entendimento, que caracterizamos como simples, e que pode ser fonte de entendimento, outro tipo especial de compreensão, mas que detém uma estrutura mais complexa. O que vai diferenciar a singeleza e a complexidade do fenômeno compreensivo é se a informação que eles trazem é ou não significativa para a ação, para o fazer. Há coisas que sabemos apenas por curiosidade, sem qualquer intenção de entendimento mais profundo; há coisas sobre as quais queremos ter entendimento mais aprofundado, sem, contudo, a intenção de agir; e finalmente, a terceira, cujo entendimento é produzido com a intenção deliberada de agir. A Nova Educação se estrutura nessas duas últimas, com predominância da terceira. Este ensaio tem como objetivo mostrar que a motivação para a ação caracteriza a Nova Educação.

A educação é a conquista da intimidade com os fatos e fenômenos do mundo com vista à ação. É um caminho que se faz de dentro para fora, o que vale dizer do autoconhecimento para o conhecimento do mundo. Mas esse caminho não é linear, não descreve uma linha de A – B. Pelo contrário, é um caminho intrincado, cheio de idas e vindas, de maneira que o autoconhecimento se faz de forma paralela ao conhecimento do mundo. Ao conhecer um pouco de si o indivíduo dá um salto muito importante para conhecer um pouco do mundo exterior que retroalimenta suas potencialidades para conhecer um pouco mais de si mesmo. Mas conhecer, novamente, não é apenas ter a informação ou conhecer a lógica da coisa. É, antes, de tudo, agir, de maneira que o indivíduo que sabe é capaz de demonstrar na prática aquilo que conhece. Se não conseguir demonstrar, não sabe, tem apenas o entendimento.

A razão da Nova Educação se basear na aplicação do conhecimento é simples: é que é a forma mais efetiva de utilizar todos os canais de comunicação com o cérebro para disseminar o conhecimento para várias regiões cerebrais. O entendimento geralmente utiliza os canais da visão e/ou da audição, caracterizando os indivíduos visuais e auditivos, respectivamente. Os outros canais quase não são utilizados, o que caracteriza a educação contemporânea, cuja preocupação ou objetivo maior é apenas o entendimento. A Nova Educação vai ao encontro dos anseios dos indivíduos atuais, principalmente os da primeira e segunda infâncias, que são desejosos de ação, de ver o conhecimento em prática, buscam apreender a dinâmica dos fatos e fenômenos do mundo.

Como consequência, as estratégias de aprendizagem dos novos habitantes do planeta são invertidas. Eles observam os fatos e fenômenos do mundo e procuram compreender sua lógica, seu esquema operatório, em busca do entendimento. Descoberto o segredo daquilo que querem aprender, partem imediatamente para a reprodução daquela prática, daquele esquema lógico, para se certificar de que aprenderam de verdade. Caso não consigam reproduzir o comportamento do entendimento desejado, voltam ao estudo do esquema lógico e consequente aplicação, até que consigam reproduzir o conhecimento desejado. É exatamente isso o que acontece diante de jogos de computador: observa-se a dinâmica do jogo e em seguida parte-se para a sua compreensão em busca de obter habilidade de jogo. E não é por acaso que muitas estratégias de ensino começam a incorporar a gamificação.

Ante a realidade estática, que demarcava uma mentalidade estável e certa dos mundos anteriores, a realidade dinâmica de hoje tem a incerteza e a instabilidade como características primordiais. Isso quer dizer que não vale a pena mais perder tempo com esquemas lógicos que se vão obsoletizar em seguida, de maneira que não é o entendimento de uma lógica particular que move os indivíduos, mas o exercício de suas capacidades de entender qualquer coisa. Quando se colocam o desafio de aprender, estão se colocando, na verdade, o desafio de demonstrar suas capacidades de aprendizagem, que é justamente o que chamamos de prática. Tomemos um exemplo singelo.

Se na aula de português é dito que um parágrafo bem feito é composto de pelo menos seis linhas e três períodos, o indivíduo atual vai procurar saber o que é período e o que é parágrafo e como eles podem ser percebidos e executados. Compreendido esse esquema lógico, imediatamente ele quer testar o entendimento na produção de um parágrafo que tenha, naturalmente, seis linhas e três períodos. Se esse esquema não for seguido (ver um parágrafo padrão, compreender a lógica de cada parte do parágrafo e redigir imediatamente um parágrafo), o cérebro vai se recusar a aprender. Se o entendimento não for seguido da prática e se o indivíduo dormir sem que tenha praticado, todo o esforço será perdido, uma vez que o hipocampo vai ser esvaziado durante o sono.

Dessa forma, é preciso praticar o entendimento por dois motivos básicos. O primeiro é fisiológico: se não houver prática, não haverá possibilidade de aprendizagem integral porque não se terá acesso a todas as regiões cerebrais que a prática ajuda a consolidar. A segunda é motivacional: os indivíduos da contemporaneidade têm na prática a sua principal fonte de motivação para ir adiante na busca de novos conhecimentos. Não são indivíduos que acreditam no que se fala apenas pelos belos olhos do professor, mas porque sua estrutura cerebral é de natureza consequente, demonstrativa. Eles acreditam fazendo.

Essa mentalidade está em associação com os anseios psíquicos da contemporaneidade, que clama por mudanças em praticamente todas as dimensões da vida humana associada. É preciso mudar o mundo para que os novos habitantes encontram aqui o lugar propício para a aquisição de novos saberes e prepara o mundo para as gerações futuras. Aprendem, portanto, porque agem e sabem agir para que a estrutura cerebral possa se desenvolver e, assim, ativar novos genes que ainda não estão ativos. É por isso que se diz que aprender, a partir de agora, passa a ter conotações biológicas, interferindo profundamente no metabolismo humano. A Nova Educação (e os novos intermediadores) está estruturada no funcionamento do cérebro.


Dr. Daniel Nascimento e Silva

Dr. Daniel Nascimento e Silva

PhD, Professor e Pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)



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