Provérbio chinês

Provérbio chinês


“Quando os sabres estão enferrujados e as pás luzidias, as prisões vazias e os celeiros cheios, os degraus do templo gastos pelos passos dos fiéis...

Quando as cortes estão cobertas de mato, os médicos andam a pé, os padeiros andam a cavalo, e quando há muitas crianças, o Império é bem governado” (proverbio chinês).

 

A sabedoria do povo chinês é milenar e sempre podemos refletir sobre alguma coisa. Também fique bem claro que não estou criticando um ou outro governo. Convido a ler e reler algumas vezes o provérbio e a se perguntar se é isso que gostaríamos ou não. Armas enferrujadas e trabalho para todos; prisões e tribunais vazios; povo com saúde e fartura de alimentos. A paz, enfim, com muitas crianças brincando felizes. Sonho da sabedoria do povo simples ou projeto de uma outra sociedade? Cada um responda como melhor pensa. Cabe a mim explicar o que tem a ver tudo isso com a página do evangelho de Lucas que encontramos neste domingo.

 

Se não tivéssemos informações por outros trechos evangélicos, estaríamos simplesmente num povoado anônimo, na casa de duas mulheres, que acolhem Jesus: Marta e Maria. Logo fica evidente que esta acolhida é diferente para cada uma delas. Marta está atarefada com “muitas coisas” e, facilmente, as podemos imaginar porque sabemos o que acontece quando temos algum hospede em casa. Maria, ao contrário, está sentada aos pés de Jesus escutando as palavras do mestre. Muito realista, Lucas nos apresenta a reclamação de Marta e o seu pedido para que Jesus ordene a Maria a ajudá-la nos trabalhos. Mas Jesus aproveita para nos dar mais uma lição. Vivemos no meio de tantas coisas para fazer, muitos compromissos e responsabilidades. Jesus não diz que tudo isso não vale nada, mas que, de todas, “uma só coisa é necessária” e é a parte melhor, aquela que Maria escolheu: ser discípula, atenta para aprender com o mestre Jesus.

 

Sempre haverá quem queira contrapor Marta e Maria. Isso porque cada um de nós tem as suas diferenças e preferências. Os mais ativos se reconhecem em Marta e acham acomodados e preguiçosos os demais. Ao contrário, os mais reflexivos julgam que os outros erram porque são precipitados e incapazes de planejar. Em ambos os casos tudo serve para polemizar e, quem sabe, defender a própria posição. Essa não foi a preocupação de Jesus no trecho de Lucas. Simplesmente nos é oferecida uma fonte onde atingir para motivar e escolher o nosso agir.

 

Todo ser humano é inteligente; não somos movidos só pelos instintos. Com mais ou menos consciência, todos temos razões que explicam o nosso agir. Por exemplo: a fome e a sede levam qualquer pessoa a buscar comida e bebida. O pavor de ficar sem alimentos nos faz construir as geladeiras ou os celeiros. Quem quer ser o dono do mundo, da vida e da morte das pessoas, constrói armas cada vez mais poderosas. A insaciabilidade da ganância organiza a sociedade para o consumo, sem levar em conta o desperdício, o lixo acumulado e o esgotamento do planeta. O medo dos assaltos nos faz transformar as nossas casas em pequenas fortalezas. Todos achamos que o objetivo da nossa vida é o maior e o mais importante, mas, no fundo, sabemos que, muitas vezes, além de ser extremamente egoísta é também bem mesquinho. Para muitos, a única coisa que interessa na vida é ele ou ela mesmo, o seu bem-estar, o seu sucesso ou o seu poder. Jesus já sabia dos projetos dos grandes e dos poderosos, mas disse que entre os seus discípulos não devia ser assim (Lc 22,26). Ele quer nos ajudar a encontrar uma meta que valha a pena mesmo, que não seja mero desperdício de inteligência e capacidades. Podemos chamar esse objetivo de paz universal, de amor entre as pessoas, de justiça e bondade, e assim por adiante, mas para que não sejam só palavras bonitas, precisamos de uma referência, de alguém que nos amou até o fim, de alguém que não foi um homem qualquer, mas o Filho de Deus. Alguém no qual podemos acreditar sem medo. Se não queremos confundir e errar a meta da nossa vida, precisamos sentar todos aos pés de Jesus e aprender com ele.



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